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Márcio Roberto Goes

Como é bom voltar

04/12/2012

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Na rodoviária: “Boa tarde senhora! Pode me dar uma informação?”... Nada! Uma cara de nojo que me olha da cabeça aos pés... Nova tentativa: “Boa tarde, senhor! Preciso de uma informação.”... Nem sequer olha para o transeunte que lhe indaga. Nariz empinado, jeito de doutor, paletó e gravata, maleta preta... Deve ser mais um que enriqueceu explorando a boa vontade e a cobiça do povo, como muitos nesta cidade e em todo o país. Certamente ostenta carrões e mansões, dizendo que conseguiu tudo com os negócios e tenta levar outros desavisados para sua rede fictícia que enriquece poucos vendendo ilusões, enquanto muitos cobiçosos tentam o mesmo, mas não conseguem. Afinal, onde existe um vencedor, é graças ao trabalho de muitos outros perdedores...

Mas nem tudo pode ser espinhos nesta metrópole. No tubo, esperando o ônibus: “Boa tarde!”... O cobrador sequer olha quem o cumprimentou, tampouco responde a gentileza, pega o dinheiro, devolve o troco, sem qualquer contato com o forasteiro... Todos no tubo a esperar a condução de cabeça baixa, alguns usando fones de ouvido, outros brincando com os dedos, outros ainda, lendo... Sou a favor da leitura, mas nesses casos, uma boa conversa seria muito melhor para a vida dos seres humanos ao meu redor e para mim...

O maior ônibus sanfonado do mundo estaciona. Baixa a rampa, abrem-se as portas e, o interiorano aqui tenta entrar numa boa... Em segundos, uma multidão me empurra para dentro do veículo, sem um pingo de educação e, o que é pior, generosidade zero. Idosos, crianças, pessoas com pacotes e sacolas, todos enlouquecidos, como se estivessem nos últimos segundos para o fim do mundo, se dirigindo a algum abrigo subterrâneo que lhes garanta a sobrevivência...

Após, me acomodo confortavelmente, em pé, com duas mochilas, uma no ombro e outra na mão esquerda, restando apenas a direita para se defender dos solavancos, no meio da sanfona. A cada curva, um pé virava e outro ficava. Nunca imaginei que fosse capaz de ter tanto equilíbrio... Para evitar que desconhecidos comecem uma boa conversa, tem uma gravação com voz feminina que informa sempre a próxima parada do ônibus. Novamente, entram em ação, livros e os fones que talvez sejam a companhia de alguém que já saiba de cor onde deve parar e não precisa ouvir atentamente a mulher da gravação... A cada tubo, uma nova avalanche de desesperados entrando e saindo da sanfona gigante...

No shopping. “Olha, uma viola!”... Como bom aprendiz, resolvi exercitar os dois acordes que já aprendi... Não deu dez segundos, alguém, por milagre me dirige a palavra: “Você não pode mexer!”... Assim... Seco, sem cumprimentar, sem me atender como fazem os bons vendedores, sem me mostrar as novidades... Sem um pingo de consideração pelo ser humano que abraçava aquela viola afinada em cebolão ré maior e que, apesar de pouco saber, queria mostrar, para quem fosse o resultado de alguns momentos de estudo autodidata... A intenção de dedilhar também os violões, instrumento que me acompanha desde os onze anos, caiu junto com a esperança de encontrar algum coração no peito das pessoas desta selva de pedras, cobiça, arrogância e egoísmo... Aquela loja de instrumentos perdeu o cliente recém-chegado à cidade. As pessoas ao meu redor conseguiram, pelo menos durante minha estadia por ali, me convencer a ter um comportamento igual ao delas...

Três dias se passaram nesta mesma rotina, tubo, cara feia, ônibus sanfonado, arrogância, shopping, egoísmo, passeio nas ruas, mais cara feia... Finalmente chega o grande dia. Novamente na rodoviária, tentando me virar sozinho, sem abrir a boca para não receber ausência de respostas... Eis que surge meu ônibus. O itinerário: Curitiba – Caçador...

Como é bom poder voltar a minha terra natal!...

 

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