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Márcio Roberto Goes

A volta dos sonhos azuis

17/04/2013

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Foi-se o tempo em que o maior sonho do João era ter um fusca azul, da cor de seus sonhos... Realizou, teve sua história escrita num romance, casou, descasou, namorou, “desnamorou”... Sonhou “desonhou”...

Seus sonhos foram se somando: Um grande amor... A casa própria... A valorização pessoal e profissional... A vivência da fé exemplificada por sua mãe há quase dez anos falecida, porém viva em seus costumes, gestos e no coração... Nunca teve pretensões materiais... É um homem de hábitos e costumes simples... Simples como a vida, como a família, como um fusquinha azul da cor do céu...

Muitas pessoas o influenciaram e o fizeram mudar conceitos. Casou-se e trocou de carro. Para a cônjuge, um fusca não era um carro digno... O casamento durou longos nove meses... Mudou de vida, seus hábitos e costumes já não eram mais tão simples como antes... Tornara-se um homem exigente, sisudo, rancoroso, mau humorado... Pensava, erroneamente estar feliz. Todos o alertavam, mas seu coração iludido não dava ouvidos... Era enfim, outro ser humano, do jeito que a sociedade lhe impunha. As pessoas ao seu redor, não alimentavam nele a ideia de que sempre é melhor agir com bondade... Deveria ser vingativo, não podia levar desaforo para casa...

João então resolveu continuar lutando pelos seus ideais de sempre, porém procurou a forma errada e despertou a fúria de seus líderes... Queria uma educação de qualidade, humana, solidária... Queria, como sempre quis, trabalhar com amor, de rer humano para ser humano... Não de professor para aluno... Foi mal compreendido, foi condenado... Todos lhe apontavam o dedo julgando seus atos que lhe aproximavam cada vez mais dos alunos como seres humanos que são... Lutaram e conseguiram (Ou quase) destruir sua moral... Afastaram por um tempo o problema... e o problema era ele: O João, seus sonhos azuis e seus ideais de uma sociedade mais justa e igualitária...

Mas o problema voltou... Porém, antes da volta, João dos sonhos azuis resolveu retomar seus ideais e tentar novamente da maneira que julgava certa: com amor, simplicidade e fé... Provou novas situações, mudou novos conceitos e voltou aos velhos com roupagem nova... Adaptou seus sonhos, mas os manteve simples e solidários... Teve outras namoradas até a definitiva, em quem encontrou toda a simplicidade que buscava. Ela não sabia ser tão simples, teve que descobrir-se também... Sonharam juntos, amaram juntos um ao outro e aos animais... Lutaram pelos mesmos ideais até que o destino os afastou e, pouco tempo depois, inevitavelmente, os aproximou novamente...

Numa certa tarde de outono, nosso sonhador de sonhos azuis resolve recomeçar... Desejou, profundamente voltar a ser aquele sonhador entusiástico e combativo de sonhos azuis que estava quase sepultado no cemitério dos sonhos que morreram precocemente... Ressuscitou seus ideais e recomeçou a luta... Só a intenção já magnetizou seu mundo de volta... Voltou a trabalhar em rádio, mesmo que voluntariamente... Retomou seu trabalho com a juventude... Novamente começou a ouvir e ajudar seus alunos nos assuntos sérios da adolescência que os adultos julgam bobagem de momento... Retornou a pensar com o cérebro do povo e não daqueles que sentam na cadeira de quem pensa que manda... Tudo isso, acompanhado da maior crise financeira que já vivera... Teve que perder tudo para poder recuperar só aquilo que o faria simples e feliz como outrora...

Mas ainda faltava um pequeno detalhe... Algo que iria enterrar de vez a coroa da simplicidade em sua cabeça sonhadora de sonhos azuis... O fusquinha... Jogou fora todo o luxo da indústria automobilística que a sociedade lhe impunha para uma pseudo-felicidade e foi em busca do terceiro besourinho de sua vida... Encontrou de todas as cores: areia, verde, branco, prata... Modelo novo, antigo, inteiro, carente de manutenção... Mas nenhum o agradava.. Nenhum o chamava a atenção como seu primeiro há dez anos... Até que um belo dia, ao passar numa revendedora, tem a mesma emoção de uma década atras... Lá estava ele: Lindo, inteirão, charmoso como todo fusca, seu olhar encontrou os faróis e trocaram brilhos... Azul, da cor do céu, da cor de seus sonhos ressurgidos das cinzas...

João então completou sua volta à vida simples e sonhadora... Voltou a ser o cidadão pacato de hábitos simples, de riso fácil e generoso, voltou a ser o João dos sonhos azuis, da cor do céu, limite de quem sonha com a justiça, da cor de seu fusquinha... Voltou a viver... Voltou a escrever... Voltou a sonhar... Sonhos azuis...

 

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