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Márcio Roberto Goes

Ode ao siso

29/05/2013

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Um dente nasce, cresce, envelhece e morre... Às vezes este ciclo coincide com o da pessoa cuja boca o possui... Em alguns casos, porém, a vida útil de um dente termina muito antes... O dente de leite já nasce pra morrer e dar lugar a outro definitivo... O permanente é insubstituível, mas o tal do siso é discriminado por ser o último da fila e, talvez, o menos importante... “O dente do juízo.” - Dizia minha mãe. Mas atualmente o juízo dura pouco, logo deve-se mostrar sua raiz ao sol...

Meu siso querido... Você teve uma vida mais longa do que seus semelhantes normalmente têm. Foi privilegiado com quase três décadas de mordidas imponentes e importantes. Nada passava por você sem ser triturado. Você era o último, aquele que abria o caminho ao esôfago, que por sua vez, conduz os alimentos, já triturados ao estômago que tem seu trabalho facilitado, graças à dentes como você...

Mas, como tudo acaba um dia, sua estrutura começou a sucumbir. Você foi dilacerado pelo tempo. Aos poucos, esfarelava na obsolescência natural dos dentes humanos... O homem da máscara branca até tentou restaurá-lo, mas você, rebelde como sempre, não aceitou a massa imposta por aquelas mãos cobertas por luvas cirúrgicas... A solução foi arrancá-lo de seu confortável habitat e substituí-lo por três pontos temporários com linha de náilon...

Siso! Oh adorável siso! Cumpriste sua missão. Outrora foste um dente viçoso, vistoso, vigoroso, impetuoso, destemido. Concluías o trabalho de mastigação com extrema eficiência. Cumprias com responsabilidade sua tarefa... Hoje é só mais um dente cariado, acrescido de uma tentativa de restauração, todo ensanguentado, jogado a própria sorte num lixo fétido hospitalar...

Pobre siso, agora esquecido, abandonado... Seu lugar permanecerá vazio após a retirada dos três pontos, encarregados de lacrar qualquer lembrança deste que viveu só para fazer a sua parte... Nasceste siso, morreste siso... Nada o substituirá. O esôfago, o estômago e os outros dentes terão que continuar o trabalho sem a sua ilustre companhia... Mas, sempre haverá uma lacuna para recordar que, um dia você foi um dente tímido, discreto, escondido lá no fundo, mas que cumpriu com louvores o seu trabalho...

Era triturador, agora será triturado. Destino cruel!... Marcando assim a vida de um siso que agora completa definitivamente seu ciclo... Excluído por um alicate guiado pelas mãos do dentista da máscara branca, óculos de para-brisa de kombi bipartido e luvas cirúrgicas que descansarão em paz ao seu lado no lixo hospitalar...

Eternas saudades, siso querido!

 

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