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Márcio Roberto Goes

A explosão da cobiça

04/10/2013

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Eram cinco irmãos: uma mulher e quatro homens. Seus pais haviam morrido e eles herdaram uma grande propriedade, onde a progenitora viveu quase toda a sua vida depois de casada. Todos nasceram e se criaram naquelas terras que uniam a família nas datas especiais. Cada irmão tomou seu rumo e só o derradeiro ainda permanecia na casa até a morte de sua mãe. O pai, por sua vez já não vivia mais com eles ao falecer, fruto de uma separação depois de trinta anos de vida conjugal...

Mas, como sempre ocorre com os bens materiais, aquilo que era símbolo de união tornou-se motivo de desavenças e cobiça. A família unida deu lugar a um jogo de interesses mesquinhos... A terra que os unia, agora era de todos e de ninguém...

O primogênito, sensato e objetivo, tentava manter a calma e, mesmo de longe, aconselhava seus irmãos a continuarem cultivando a união. O segundo entregou-se ao álcool e às drogas, não tinha sequer consciência do que aquela propriedade significava para a família, mas entrava na briga só para ver o tumulto. A do meio, cultivava os sentimentos e a saudade que lhe corroía a alma, tentando buscar uma forma de conservar a história daquela família conturbada. O penúltimo só queria poder voltar à casa quando quisesse para lembrar das coisas que ali viveu, apesar de não ter aproveitado e contribuído para que as lembranças fossem totalmente agradáveis, tanto para ele, quanto para o restante da família. O mais novo tentava manter o controle e tomar atitudes sensatas a fim de não deixar a matéria sobressair aos valores espirituais, morais e éticos...

Vendo que o acordo entre os herdeiros estava cada vez mais distante da realidade, o mais novo resolve retirar-se daquele local para que não houvesse desigualdade de condições, mas as desavenças continuaram rondando aquele chão e a família continuou dividida. Entrou em contato com a do meio e chegaram a seguinte conclusão: “Já que é isso que divide a família, vamos destruir a casa, assim o mal acaba”... Organizaram um plano perfeito, compraram os explosivos e instalaram tudo conforme manda as normas de segurança para uma implosão...

O derradeiro ficou encarregado de acionar o botão e o fez sem pestanejar... Ele e sua irmã esperaram ansiosos dez segundos, vinte, trinta, um minuto... E nada... A razão de suas desavenças continuava intacta, nenhum ruído, nenhum tremor, nenhuma reação. A inércia física e moral continuava sendo uma constante naquele local... E agora?... Não funcionou!... Alguém precisa entrar lá para ver o que houve... Mas é arriscado, pode detonar tardiamente e acabar machucando, até matando alguém...

Sem hesitar, o caçula se prontificou a ir, a do meio não gostou da ideia, mas ele foi sem pensar nas consequências... O caminho do cordão de isolamento até o local dos explosivos foi triplicado por conta dos pensamentos que permearam sua mente: “O que estou fazendo? Os bens materiais são o que são: matéria. Não são tão essenciais quanto pensamos, não levaremos nada disso para o túmulo, nem para a vida eterna... Mas nem por isso temos o direito de destruí-los só por causa de interesses mesquinhos... O fato de não conseguirmos destruir esta casa é a prova de que tivemos uma segunda chance, não vou desperdiçá-la...”

Alguma coisa havia impedido a corrente de chegar até os detonadores e o caçula se encarregou de desconectar qualquer chance daquela explosão acontecer. Tudo foi desligado com suas próprias mãos. Ao voltar para a rua, como num milagre, encontra seus quatro irmãos unidos novamente em torno daquele monumento histórico da família, que depois disso, tornou-se moradia para outras pessoas que não tinham um teto, cumprindo assim sua obrigação social de abrigar a quem precisa de ajuda, atitude tomada pela progenitora durante todo o tempo em que viveu ali...

 

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